Os sapatos exercem certo fascínio
no cinema e na literatura e sempre tiveram papel de destaque na ficção. Em O
Mágico de Oz, Dorothy provavelmente não teria voltado para casa no Kansas sem
seus escarpins superpoderosos e cobertos de rubis, ou ainda, Audrey Hepburn
encarnando Holly Golightly sem suas ballerines, em Bonequinha de Luxo, e mais
atual, Carrie Bradshaw talvez não teria aceitado o segundo pedido de casamento do Mr. Big, no filme Sex and the City, se não fosse um Manolo Blahnik.
Para continuar neste embalo,
acaba de chegar nas livrarias brasileiras o livro da americana Rachelle
Bergstein Do Tornozelo para Baixo – A História dos sapatos e como Eles Definem
as Mulheres. Com uma bem fundamentada pesquisa sobre a paixão das mulheres por
sapatos, o livro traça um paralelo entre a evolução do acessório e a
emancipação feminina, percorrendo o glamour dos estúdios de Hollywood aos
ícones do guarda-roupa jovem. Depois de ler, é calçar o seu, sair e curtir!
A origem dos sapatos é remota e
os primeiros pares surgiram da necessidade de se proteger do frio e do solo,
sem contar as ligações com a vaidade, poder e condições econômicas das pessoas
ao longo dos tempos. A História da Moda mostra uma infinidade de modelos de
calçados masculinos e femininos, com variações de bico, saltos, solados,
enfeites e matérias primas com as quais foram fabricados. Estilistas como
Manolo Blahnik, Roger Vivier e Salvatore Ferragamo são nomes consagrados
internacionalmente. No Brasil temos Constança Basto, Francesca Giobbi e
Fernando Pires.
Manolo Blahnik (71 anos)
É um estilista
espanhol e dono de uma das mais proeminentes marcas de sapatos femininos. Desenhou
inúmeros modelos para estilistas consagrados como Yves Saint Laurent, Christian Dior, Calvin Klein e John Galliano.
Foi nomeado Designer de Acessórios do Ano pelo Conselho Britânico de Moda em
1990 e 1999. Além disso, recebeu o título honorário de doutor pelo Royal London
College of Art and Royal Society of Arts da Inglaterra.
Roger Vivier (1907-1998)
O designer francês Roger Vivier construiu
sapatos baseados nos modernos princípios da aeronáutica e da engenharia.O que mais atrai em seu sapato é o salto, que pode ser vírgula, rolo,
bola, agulha, pirâmide ou caracol. Dentre seus lendários clientes, temos
Marlene Dietrich, Josephine Baker, Jeanne Moreau, Catherine Deneuve, Rainha
Isabel II e os Beatles.
Salvatore Ferragamo (1898-1960)
Estilista de sapatos italiano, calçou ícones como Sophia Loren, Greta Garbo, Katharine Hepburn, Marlene Dietrich, Ava Gardner, Gary Cooper e Marilyn Monroe. Foi pioneiro na utilização da cortiça na criação
de saltos.
Constança Basto
A designer de sapatos Constança Basto é conhecida no mundo fashion
por suas criações sofisticadas e sensuais. Fundada em 1998 e tendo como o nome
da marca o nome da própria designer, a marca já tem mais de 70 pontos não só no
Brasil, mas no exterior também.
Francesca Giobbi
A designer começou a produzir
sapatos quando foi estudar arquitetura na Itália, lá trabalhou para marcas como
Prada e Versace. Quando voltou para o Brasil, abriu sua marca aos 28 anos. Eram
duas lojas e uma fábrica. Oito anos depois ela se uniu ao sapateiro Jorge
Guimarães, juntos eles conquistaram 60 postos de vendas para a marca Isla
Castilla, criada com a parceria.
Fernando Pires
Fernando Pires é formado em
Arquitetura e Urbanismo mas ficou conhecido por criar sapatos femininos. Além
de calçar várias celebridades, produz calçados para composição de figurino em
desfiles, telenovelas e teatro. Atualmente, possui uma loja na badalada região
dos Jardins em São Paulo.
Para comemorar esta relação tão
íntima entre sapatos, cinema e literatura, o Museu Salvatore Ferragamo, em
Florença, acaba de inaugurar a exposição“The
Amazing Shoemaker - Fairy Tales and Legends about Shoes
and Shoemakers, que ficará em cartaz até maio de 2014. Além de reunir peças
históricas, garimpadas em diversos acervos do mundo, a mostra apresenta obras
inéditas encomendadas a 29 artistas, inspiradas no legado de Ferragamo. A
exposição traz inúmeras curiosidades do seu processo criativo e sua obsessão pelo corpo humano.
Em 26 telas, Frank
Espinosa levou a vida do sapateiro para os quadrinhos. Conhecido por ter redesenhado os personagens de animação Looney Tunes
em 1992, o cartunista resgata passagens da trajetória do italiano, como sua temporada na
Universidade da Califórnia, nos anos 20, só para estudar anatomia. Lá,
Salvatore aprendeu como funciona a dinâmica de equilíbrio do corpo e, a partir
dali, desenvolveu técnicas para projetar sapatos com saltos vertiginosos, mas
que garantiam estabilidade. A graphic novel se chama
Salvatore Ferragamo: Making of a Dream e conta a história da paixão do designer
por sapatos, desde sua infância pobre na Itália.
Entre outras inovações, Ferragamo
patenteou uma lâmina de metal que é incorporada à sola de couro e ajuda a dar
sustentação aos pés. É por causa dele que várias vezes seu sapato apita no
detector de metais, mesmo que pareça ser apenas couro.
Outro fato curioso é sua ligação
com a mitologia greco-romana. No início dos anos 50, o sapateiro se apoderou do
tema para criar modelos como a sandália Flash, adornada com asas, uma
referência ao deus Mercúrio.
No filme White Shoe, dirigido
pelo americano Rick Heinrichs, Salvatore, aos 9 anos, nascido num vilarejo
próximo à Nápoles, se aventurou em criar um sapato branco para a primeira
comunhão da irmã e imediatamente se encantou com o ofício. Na época, este
trabalho não tinha prestígio, mas a vocação de Ferragamo falou mais alto e aos
16 anos, ele já vivia na Califórnia, confeccionando peças para os grandes
estúdios de cinema.
Depois da infância dura, Ferragamo
foi duas vezes à falência, conseguiu se reerguer em ambas, contornou a escassez
da Segunda Guerra, trocando o salto de madeira pelo de cortiça e conquistou uma
legião eclética de fãs para sua grife, da nobreza a Hollywood.